segunda-feira, 17 de outubro de 2011

Governo Marconi Perillo e o agronegócio

Política empresarial do governo Marconi Perillo: uma ameaça ao bioma do Cerrado

           O período de pouco mais de nove meses do regime “Marconiano” em Goiás foi o suficiente para consolidar todo um plano de incentivo ao patronato ruralista no estado, e com isso, um crescimento da agroindústria com seu modelo técnico-produtivo de monoculturas sobre a região onde reside um bioma bastante fragilizado, o Cerrado.
            No dia 11 de agosto de 2011, houve a 4ª edição da Bienal dos Negócios da Agricultura no Campus II da UFG. Segundo informações no próprio site do “governador” estavam presentes: o governador do Mato Grosso, representantes dos governos de Mato Grosso do Sul e Distrito Federal e a latifundiária Kátia Abreu (a mesma que propeliu a célebre frase: “Pobre tem que comer alimentos com defensivos agrícolas sim!”, revelando dessa maneira, que sua intenção é o genocídio social).  Vale a pena lembrar:


            A motivação principal da bienal é a abertura dos estados do Centro Oeste para a economia baseada exclusivamente na exportação de comodities agrícolas. Uma estratégia política para favorecer tanto o patronato ruralista quanto os gigantes das sementes e dos pacotes dos insumos, tais como: a Monsanto, Novartis, Syngenta, Bayer, Astra Zeneca, Dupont, Basf e Dow que segundo a pesquisadora Larissa Mies Bombardi do Departamento de Geografia da Universidade de São Paulo, controlam cerca de 70% do mercado de agrotóxicos no Brasil.
           O problema da política empresarial de incentivo ao agronegócio está justamente no modelo produtivo da monocultura. Um sistema de produção criado apenas para promover a dependência dos sistemas agrícolas por insumos.
      Diferente de uma abordagem agroecológica de auto-sustentação e auto-suficiência das condições produtivas onde os insumos são gerados e reciclados a partir dos próprios recursos ecossistêmicos da propriedade rural, as monoculturas são sistemas totalmente instáveis, destituídos de controle descentralizado e totalmente dependente dos insumos químicos vendidos pelas grandes corporações da agroindústria. O paradigma reducionista do monocultivo agrícola rompeu totalmente o elo que ligava as condições ecológicas e cíclicas da fertilidade do solo, biomassa e água para gerar um sistema de fluxo linear, ou seja: as condições de produção das monoculturas dependem totalmente da disponibilidade dos pacotes de insumos (agrotóxicos, máquinas, fertilizantes químicos e água).
            Está no cerne da produção de soja a utilização de agrotóxicos, como por exemplo, o Roundup (princípio ativo: glifosato), produzido pela multinacional Monsanto. Quando pulverizado nas lavouras, o herbicida não distingue ervas daninhas de outros vegetais. A soja resiste à aplicação graças ao “milagre” da biotecnologia que gerou a soja resistente ao Roundup (uma variedade transgênica produzida pela própria Monsanto). O resultado é a devastação de organismos vegetais nas proximidades das lavouras, e consequentemente um sério desequilíbrio nos ecossistemas, sem mencionar a poluição de águas superficiais, contaminação de alimentos e da própria soja produzida. Algumas pesquisas científicas evidenciaram ainda o caráter genotóxico do herbicida em questão.
            Toda essa pressão está concentrada sobre o bioma do cerrado e sobre a população rural. Em nenhum momento da política empresarial do Governo Marconi discutiu-se a real produtividade e a real contribuição para a economia do estado. Talvez a “grande contribuição” do agronegócio não seria nada evidente se fossem consideradas todas as externalizações: destruição do cerrado, concentração de renda nas mãos dos latifundiários e das corporações agroindustriais, desoneração fiscal dos empresários (sem recuperação do capital ao estado), prejuízos aos pequenos produtores da agricultura familiar, expulsão dos camponeses dos seus meios de vida, desemprego, contaminação ambiental e humana com agrotóxicos, conflitos e desequilíbrio social.
            Existe atualmente apenas pouco mais que 2,2% do cerrado preservado e estima-se que a perda do bioma avança em torno de 1,1% ao ano. O Cerrado (declarado pela Conservation International um dos hotspots mundiais) é caracterizado por sua grande riqueza em biodiversidade, incluindo diversas espécies endêmicas. É muita falta de bom senso colocar de forma equilibrada a dicotomia entre o crescimento econômico e a preservação do cerrado em um contexto totalmente desequilibrado, já com significativas perdas ambientais. Mesmo assim, como pode ser acompanhado no desenvolvimento do Novo Código Florestal, existe uma grande pressão por parte da bancada ruralista em extinguir a biodiversidade em geral para dar lugar à uniformidade de espécies vegetais mercantilizáveis visando apenas os interesses ambiciosos dos latifundiários. Carlos Eduardo Frickmann Young em seu artigo: "Desenvolvimento e meio ambiente: uma falsa incompatibilidade" evidencia que os argumentos que ligam desmatamento e crescimento econômico são demasiadamente falaciosos.
            Não é nos moldes de uma economia excludente e predatória que o desenvolvimento alcançará sua verdadeira sustentabilidade. Dada a importância do Cerrado na manutenção dos ciclos da água, na riqueza dos recursos genéticos, estabilização climática, fertilidade dos solos, controle ecológico e da vida em geral, o ambientalismo não deve ser considerado como “uma força inconveniente e antagônica direcionada contra a economia” mas uma força a favor da vida e da justiça social...

Referências
SHIVA, Vandana; Monoculturas da Mente. Global Editora, 2003

ROBIN, Marie-Monique. O Mundo Segundo a Monsanto: da dioxina aos transgênicos, uma multinacional que quer o seu bem. Radical Livros: São Paulo, 2008.

YOUNG, C. E. F.; Desenvolvimento e meio ambiente: uma falsa incompatibilidade. Ciência Hoje, vol. 36 n°211; 2004.

Conservation International: Biodiversity Hotspots. Disponível em: http://www.biodiversityhotspots.org/xp/hotspots/cerrado/Pages/default.aspx

TUBINO, Najar; O Agronegócio e a marcha dos insensatos. Disponível em: http://www.cartamaior.com.br/templates/materiaMostrar.cfm?materia_id=18709

Goiás é o centro do agronegócio brasileiro. Disponível em: http://www.marconiperillo.com/equipe/tag/agronegocio/

4ª edição da Bienal dos Negócios da Agricultura no Campus II da UFG.  Disponível em: http://www.marconiperillo.com/equipe/marconi-abre-bienal-do-agronegocio/